sábado, 8 de março de 2014

enfermaria 53.

Na enfermaria as coisas ficaram mais tranquilas e tinha a sensação que tudo ia se ajeitar. São oito leitos na sala e uma equipe de enfermagem 24h. Os médicos fazem a visita pela manhã e depois conversam com a família, caso tenha necessidade.

Pedi autorização pra ser acompanhante da mamãe e a enfermagem liberou. Era uma quinta e fiquei com ela no hospital até umas 22h. Estava pronta pra dormir, mas ela, obviamente, não deixou. Sempre se preocupando mais comigo do que com ela. Eu tinha que trabalhar no dia seguinte e ela queria que eu dormisse direito em casa.

Os dias foram seguindo e eu vi a necessidade de ficar com ela naquele momento. Mamãe precisava de mim e se eu estivesse longe não teria como conversar com os médicos e acompanhar a melhora. Pedi 10 dias de férias que tinha no trabalho e fiquei revezando com minha tia e minha vizinha até o dia 17 de fevereiro, uma segunda.

Entre os dias 17 e 18 passei a noite com ela. Mamãe sempre muito ativa, não tava aguentando mais ficar naquela cama. Não encontrava posição pra dormir, passava a noite em claro, não tinha mais rivotril que desse jeito naquela ansiedade de voltar pra casa. No meio da noite ela pediu que fossemos limpar a sacolinha da colostomia - que eu já tinha aprendido a cuidar - e vi que tinha algo estranho, um líquido com uma cor roxa que muito parecia sangue. Voltamos pra cama e fiquei com aquilo na cabeça. Sabia que não era um bom sinal. Chamei a enfermeira, pois mamãe reclamou de dor, e comentei que as fezes estavam com uma coloração estranha. Pela manhã, fomos tomar banho e dessa vez a sacolinha estava completamente cheia de sangue.

Dr. Antônio Mateus é o chefe da cirurgia do hospital. Em um dos primeiros dias da mamãe na enfermaria tivemos uma longa conversa. Ele me explicou a gravidade do tumor, o quanto está avançado e os cuidados que teremos que seguir após a alta. Foi ele que chegou pra ver a mamãe no momento da hemorragia.

Aquilo tudo passa como um filme na minha cabeça. Foram algumas horas de muita tensão. Mamãe perdia muito sangue e já tinha um quadro de anemia, o que me preocupava ainda mais. Tentei manter o controle da situação o máximo possível pra que ela não ficasse ainda mais nervosa. Quando o Dr. Antônio chegou no leito, mamãe falou "Dr, me salva, eu to morrendo!" e ele, numa calma que deve ser característica da maioria dos cirurgiões, ou pelo menos deveria ser, disse "tem ninguém morrendo aqui, dona Eulalia! Fique calma aí".

Sempre soube que mamãe era uma pessoa muito forte pra dor (e pra um monte de outras coisas). Lembro de uma vez, devia ter uns 12 anos, ela teve bursite e sentia uma dor insuportável. Ela chorava na cama e eu, do lado dela, pedia a Deus que a dor fosse em mim, porque eu não queria ver minha mãe sofrer daquele jeito. E naquele momento tenso da hemorragia, perguntei algumas vezes se ela sentia dor, e ela me respondia sempre que não.

Doendo ou não, mamãe foi pro centro cirúrgico pela segunda vez. Uma segunda ida já era programada, pois ela precisava refazer alguns pontos internos que haviam soltado, mas vinha sendo adiado por conta da anemia que ela tinha. Dessa vez era emergencial, então foi levada. Dr. Antônio e Dra Claudia operaram a mamãe por quase três horas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário