Depois de uma noite de não-sono, levantamos e buscamos o que fazer. Mamãe passou a noite no CTI da emergência, chamam aqui de "sala vermelha", e não podia ter acompanhante. Por volta das 7h, papai já estava no hospital com a malinha dela pronta. Fiquei em casa tentando descansar, mas obviamente não consegui.
Meu corpo parecia fora da órbita. Os passos que eu dava pareciam não comandados por mim. O meu cansaço não era físico, era psicológico. Meu corpo descansou por toda noite que passou, mas minha cabeça não. Toda família me ligava, eu precisava avisar aos mais próximos o que estava acontecendo e, o principal, eu precisava ficar com a minha mãe.
Cheguei no hospital por volta das 10h. Papai ainda não tinha conseguido entrar nem falar com nenhum médico pra saber da mamãe. A entrada na sala vermelha era proibida e passamos alguns minutos até que eu pudesse pensar em como resolver a situação. Fui ao serviço social, expliquei o que acontecia, e consegui ter alguma informação sobre ela - ao menos que estava viva. Eu devia aguardar a médica vir chamar a família pra conversar após a visita. Inclusive eu estaria aguardando até agora.
Existia uma possibilidade - grande - da mamãe sair do local que estava e ir pra enfermaria da emergência ou, ainda pior, pro corredor, já que o hospital estava lotado. Consegui ver um rosto conhecido, um médico que passou por mim algumas vezes no dia anterior, Dr. Luis Fernando, e perguntei se ele poderia me ajudar de alguma forma a ver minha mãe. De pronto, ele me disse que estava muito ocupado, senão iria naquele mesmo momento vê-la pra me dizer a situação, mas que eu poderia entrar pra falar com o cirurgião do plantão.
Nenhum médico me olhava com uma cara boa. Sempre que eu dizia "sou filha da paciente Maria Eulalia", eles poderiam estar sorrindo que a fisionomia mudava e a primeira frase era "o que você sabe da situação da sua mãe?". E foi exatamente assim com o primeiro médico que falei nesse dia. Dr. Gustavo me disse que ela passou a noite muito bem, vinha reagindo melhor que o esperado e que só não liberou a dieta pois ela precisaria completar 24h de cirurgia. Boas notícias, mas ainda tinha uma coisa me incomodando, eu não ia permitir que minha mãe ficasse no corredor do hospital, mesmo sem saber o que fazer.
Vimos a mamãe e disse que ia voltar pra casa porque não poderia ficar ali. Avisei que voltaria mais tarde pra dar um beijo de boa noite. Mais ou menos umas 18h estava novamente no hospital e mamãe não estava mais na sala vermelha. Uma enfermeira passou por mim e disse "ela subiu, está na enfermaria cirúrgica". A Dra Flávia tinha deixado na chefia da cirurgia uma solicitação de vaga, pedindo que a primeira vaga que surgisse na enfermaria fosse da mamãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário