quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

a vida é tão rara.

Muitas coisas acontecem na nossa vida pra mudar completamente o rumo dela. Eu nunca imaginei que fosse perder tão cedo a presença física da minha mãe, certamente quem tem a mãe ao lado nunca tenha - ou queira ter - pensado nisso. Acontece que perder alguém tão próximo me fez pensar (muito, todos os dias) no quanto a vida pode ser curta sem que a gente saiba. 

Hoje completa um ano que a mamãe foi internada. Algumas datas são bem complicadas. Nesse tempo que passou, de 12 de março até hoje, a única coisa que eu me preocupei em fazer foi: tentar ser feliz. 

Eu sabia que aquela dor ia me consumir, se eu deixasse, e eu sabia que não poderia deixar isso acontecer. Uma das coisas que minha mãe me pediu, enquanto estava no hospital, foi que eu continuasse sendo feliz independente do que acontecesse. Eu tinha que continuar assim por mim, por ela e pelo meu pai. Não é fácil. 

De uma hora pra outra eu me tornei responsável pela minha casa e por tudo que ela trouxe junto. Meu pai, contas, roupa pra lavar, compras pra fazer, etc, etc. É lindo quando você vai morar sozinho e sabe que pode ligar pra casa quando o dinheiro aperta que, magicamente, sua conta terá saldo positivo. É difícil quando é você e você. 

Minha mãe comandava nossa pequena família com maestria. Meu pai não sabia nem onde as calças dele ficavam guardadas no armário. E eu ali, voltando pra casa depois de cinco anos morando fora dela e lembrando de cada coisa que minha mãe fazia pra manter tudo do jeito que ela gostava. 

Os meses foram passado, a gente foi se adaptando e minha segunda maior missão - além de ser feliz - é fazer com que meu pai se acostume com essa nova vida da maneira que ele tenha o menor sofrimento possível. Pra ele é muito mais difícil que pra mim. São duas dores diferentes, incomparáveis e imensuráveis. 

Cada vez que chegamos em casa é uma lembrança, cada vez que abrimos a porta é outra. Parece que ela vai sair do banheiro ou surgir na cozinha a qualquer momento avisando que a comida já está ficando pronta. Mas não vai. Nesses momentos a gente esquece a obrigação de ser feliz e acaba deixando a saudade bater e aquela lágrima cair. 

Ontem eu deixei de pegar uma van na rua e fiquei esperando meu ônibus passar por muitos minutos. Quando peguei meu ônibus, ele parou num engarrafamento que tinha sido causado por aquela van que eu perdi. Ela bateu e derrubou um poste que ficou atravessado na pista. Eu poderia estar ali, como eu poderia estar em vários outros lugares no meio de algum acidente. Mas eu não sei, a gente não sabe. Então é obrigatório aquele clichê de viver cada dia como se fosse o último. 

Assim que a mamãe desencarnou, parecia que meu mundo tinha parado, mas continuava a ver tudo em volta rodar. Era um transe. Eu só voltaria ao mundo normal quando começasse a girar junto com ele e isso só ia acontecer quando eu quisesse. Com tanta gente maravilhosa em volta, eu não fui "deixada" muito tempo parada ali. Voltei logo pro ritmo e empenhada a encher minha mãe de orgulho todos os dias. 

Tem uma música que sempre toca na minha cabeça quando eu lembro isso da vida:
http://youtu.be/je-RTYbzoEk

A vida não para. 
A vida é tão rara. 

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