quarta-feira, 9 de março de 2016

Rio de Janeiro, 10 de março de 2016

Oi, mãe! 

Já fazem dois anos que você não tá mais aqui, pessoalmente, com a gente. Já. Como passou rápido, né?! 
Muitas das coisas que as pessoas falam é verdade. Com o tempo a dor vai acalmando, a gente vai aprendendo a conviver com esse espaço vazio e aprendendo, também, a preenchê-lo com coisas boas. Afinal, coisa boa foi o que você mais deixou por aqui, né! Não tem nenhuma lembrança tua que não seja alegre. 

Algumas coisas mudaram por aqui, sabia? O papai agora lava as cuecas, olha que vitória! Ele também aprendeu a fazer miojo e bife (ooooh!) e me ajuda a carregar as compras do mercado. Às vezes ele me diz que sabe se virar sozinho, mas essa parte eu ainda não confio muito, cê imagina. 

Eu agora tenho cozinhado bastante. Juro! Faço aquele feijão "carregado" que você fazia pra ele toda semana, às vezes faço sopa de ervilha, no Natal eu fiz até a ceia! Pernil, salpicão, pudim... Tinha que ser sua filha mesmo. Lembra que eu dizia que aprendia tudo só de ver? Então! hahaha
Uma coisa eu acho um pouco chata, confesso: lavar roupa. Isso eu deixo tudo pra máquina. 

Conforme você pediu, tô tentando ser feliz. Continuo saindo com os mesmos amigos de sempre. Todos aqueles que você ama. Poucos novos, só os do trabalho "novo" que você não conheceu. Eles são o máximo! 
As pessoas não vêm mais aqui em casa. Esse é um ponto que eles ainda não sabem lidar: vir aqui sem ter você. Se a gente já quase não recebia visitas antes, agora, então! Nadica. 

Eu voltei pro inglês e acho que ano que vem consigo fazer uma pós. Eu sei que cê deve tá reclamando que eu to há muito tempo sem estudar. Mas a vida agora mudou muito, é muita coisa pra dar conta, tá pesado. Mas com jeitinho as coisas vão acontecendo, fica tranquila. 

Agora estou de férias, desde aquela última que passamos juntas. Vou pra Paulo Afonso visitar nossa família. Todos estão muito felizes e não vemos a hora de nos reencontrarmos. Vai ser aquela choradeira, mas eu sei que você vai estar lá junto com a gente. O meu tio continua a mesma coisa. Some, não liga pra gente, mas vez em quando eu ligo pra saber como ele tá. Fomos conhecer a família nova dele no ano passado. Meu pai gostou, então você já conclui que foi legal, né (rs). As crianças estão ótimas! O Arthur e a Eloá devem casar logo e a Marjori tá namorando e se forma esse ano. Procuro falar com eles sempre. A tia Marcia segue daquele jeitinho maravilhoso dela. As datas comemorativas eu tenho passado com a tia Tereza. Sempre aquela festa de sempre e a Carol agora tem um menino, que você não conheceu, o Pedro. Você ia se apaixonar por ele, com certeza. 

Vez em quando vou a Bonsucesso ver os amigos antigos e a vovó. Fico na casa da Fernanda, às vezes. Tem algum tempo que eu não ligo pra minha madrinha, eu sei, preciso ligar. Erika e Luciana estão bem, sempre nos falamos. Nos vemos pouco, mas é a correria, perto das datas importantes sempre encontramos. 

Todo dia eu tento voltar pra casa e nos fins de semana fico lá pela zona sul. O Rodriguinho, a Marina e o CH me abrigam. Não sei o que seria de mim se não fossem esses três, viu!? Pode deixar, eu procuro ficar revezando pra não dar trabalho ou incomodar demais. Mas já são dois anos, to tentando ficar mais em casa e perturbar menos eles. 

Já sei, quer saber dos netos, né? Sem previsão, Dona Eulalia. Mas agora eu penso muito mais nisso do que quando você ainda estava aqui. Acho que é um bom sinal! hahaha

A saudade é imensa. Não tem um dia que eu não acorde ou não durma pensando em você. Me conforta muito ter a certeza que você está bem. 
Fica tranquila, modestamente, acho que to conseguindo manter tudo nos eixos.

Te amo, 
Bruna

sábado, 5 de setembro de 2015

torta de climão;

Eu não tenho problema em falar sobre a minha mãe. Nenhum. Posso contar tudo o que aconteceu, posso dizer tudo o que a gente viveu, posso falar sobre como é difícil a vida sem ela. Essa última opção é até a mais dura, confesso, porque é tudo muito novo e eu nem sei ainda o que vai ser daqui pra frente. 

Mas as pessoas não estão preparadas para ouvir. As pessoas não sabem reagir. O normal é a resposta padrão "tinha que ser assim" e derivados. Isso eu já sei! O que eu queria era poder ser ouvida. Sentar, falar tudo o que aconteceu e que tá guardado aqui, só comigo. As lembranças são duras e todos os dias tão aqui. Elas são minhas companheiras agora. Tem dias que elas trazem momentos bons, dias que trazem os mais difíceis, mas é a minha vida e vamo em frente. 

Parece que existe um bloqueio geral sobre falar da morte. Eu nunca tinha pensado nisso, obviamente, até passar e perceber que é um ponto que ninguém sabe lidar. É como quando não querem dizer "câncer" e dizem "aquela doença", sabe? Ninguém consegue encarar a única certeza que a gente tem na vida de frente. Só eu sei o que eu passei, a dor que eu senti, a saudade que eu acordo e durmo sentindo todos os dias, e tenho que guardar aqui comigo, por que as pessoas não conversam sobre a morte (ou sobre qualquer assunto ao redor). 

Conto nos dedos aqueles que vieram me perguntar como eu estava depois que tudo aconteceu - querendo/esperando que eu contasse a verdade. Em todos os outros casos, a minha resposta sempre foi "tá tudo bem", porque é o que deve ser socialmente dito. Ninguém espera que você responda algo diferente, e se você disser elas vão responder "imagino como é difícil, mas vai passar". Não é uma mentira, mas não é como quando a gente termina um namoro, que pode repetir a história pra todo mundo, várias vezes, que sempre vai gerar uma discussão de horas. 

Conhecer gente nova é outra certeza de climão. Se chega ao ponto de contar, já falo "olha, mas tá tudo certo. não precisa ficar com cara de sem graça. eu não tenho problema nenhum em falar disso". E assim encerra o assunto, porque, né, ninguém quer saber história triste por mais de dois minutos. Deixa pro teu terapeuta. Mais fácil. 

Certa vez uma amiga me mandou uma música que dizia "e meu anseio é forte, ou eu encanto a vida ou desencanto a morte" e eu percebi que alguém tinha conseguido entender o que eu não tinha compreendido até então. Essa minha naturalidade em lidar com isso deve servir pra alguma coisa. Mesmo que eu ainda não tenha descoberto e também não entenda, até hoje, como eu passei por tudo isso de forma tão tranquila. Mas se for pra desencantar, para que histórias lindas de vida sejam contadas e lembradas com amor, sem amarras e sem dor, devo estar no caminho certo. 

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

abraçar e agradecer;

Aprendi a gostar de Bethânia com a mamãe. Ela sempre cantava muitas  músicas dela. Gostava muito de “quando estou com você, estou nos braços da paz”, sempre cantarolava para mim. Primeiro show que tive o prazer de ver esse ano foi dela. A turnê, que chama “abraçar e agradecer”, me lembrou e reforçou, o tempo inteiro, a importância de simplesmente agradecer. Nada mais justo para um janeiro.
 
Hoje encontrei um dos médicos que operou minha mãe. Talvez o que tenha feito a cirurgia mais crítica de todo o período de internação dela. Até hoje eu pensava todos os dias que precisava ter coragem de voltar ao hospital para agradecer ao Dr. Antonio pelo ótimo tratamento que a mamãe teve durante a internação. Nunca consegui ter tempo (na verdade, coragem). Até hoje.

Eu voltava do almoço e o Dr. Antônio  descia a escada do prédio que eu trabalho. Corri até ele e chamei. Me apresentei, ele não lembrava de mim até que eu falasse do caso da mamãe. Ele lembrou e eu disse que só queria agradecer. Agradecer por toda atenção que me deu por tantos dias. Agradecer por todas as explicações que me deu do caso dela. Agradecer pelo leito que ficou guardado esperando que ela retornasse do CTI. Agradecer pelo seu empenho e coragem de ter uma profissão tão bonita e importante e, principalmente, por desempenha-la de forma tão humana. Agradecer. 

Certamente ele e a Dra Flávia não sabem da importância que têm na minha vida. Mas eu sei o quanto sou grata por ter encontrado esses dois (além de tanta gente querida daquele hospital) no meu caminho e a única maneira que posso retribuir tudo o que fizeram pela minha mãe é agradecendo. 

A minha felicidade de ter encontrado o Dr Antônio na rua e conseguido dizer alguns "obrigados" era tanta que não sei nem se ele conseguiu me entender ou se está me achando uma louca. Mas tudo bem. To muito feliz por esse encontro ter acontecido. 

Acho que Deus ta colocando muitas coisas boas nesse período que vamos completar um ano sem ela, para que essa dor seja mais leve. Obrigada. 

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

a vida é tão rara.

Muitas coisas acontecem na nossa vida pra mudar completamente o rumo dela. Eu nunca imaginei que fosse perder tão cedo a presença física da minha mãe, certamente quem tem a mãe ao lado nunca tenha - ou queira ter - pensado nisso. Acontece que perder alguém tão próximo me fez pensar (muito, todos os dias) no quanto a vida pode ser curta sem que a gente saiba. 

Hoje completa um ano que a mamãe foi internada. Algumas datas são bem complicadas. Nesse tempo que passou, de 12 de março até hoje, a única coisa que eu me preocupei em fazer foi: tentar ser feliz. 

Eu sabia que aquela dor ia me consumir, se eu deixasse, e eu sabia que não poderia deixar isso acontecer. Uma das coisas que minha mãe me pediu, enquanto estava no hospital, foi que eu continuasse sendo feliz independente do que acontecesse. Eu tinha que continuar assim por mim, por ela e pelo meu pai. Não é fácil. 

De uma hora pra outra eu me tornei responsável pela minha casa e por tudo que ela trouxe junto. Meu pai, contas, roupa pra lavar, compras pra fazer, etc, etc. É lindo quando você vai morar sozinho e sabe que pode ligar pra casa quando o dinheiro aperta que, magicamente, sua conta terá saldo positivo. É difícil quando é você e você. 

Minha mãe comandava nossa pequena família com maestria. Meu pai não sabia nem onde as calças dele ficavam guardadas no armário. E eu ali, voltando pra casa depois de cinco anos morando fora dela e lembrando de cada coisa que minha mãe fazia pra manter tudo do jeito que ela gostava. 

Os meses foram passado, a gente foi se adaptando e minha segunda maior missão - além de ser feliz - é fazer com que meu pai se acostume com essa nova vida da maneira que ele tenha o menor sofrimento possível. Pra ele é muito mais difícil que pra mim. São duas dores diferentes, incomparáveis e imensuráveis. 

Cada vez que chegamos em casa é uma lembrança, cada vez que abrimos a porta é outra. Parece que ela vai sair do banheiro ou surgir na cozinha a qualquer momento avisando que a comida já está ficando pronta. Mas não vai. Nesses momentos a gente esquece a obrigação de ser feliz e acaba deixando a saudade bater e aquela lágrima cair. 

Ontem eu deixei de pegar uma van na rua e fiquei esperando meu ônibus passar por muitos minutos. Quando peguei meu ônibus, ele parou num engarrafamento que tinha sido causado por aquela van que eu perdi. Ela bateu e derrubou um poste que ficou atravessado na pista. Eu poderia estar ali, como eu poderia estar em vários outros lugares no meio de algum acidente. Mas eu não sei, a gente não sabe. Então é obrigatório aquele clichê de viver cada dia como se fosse o último. 

Assim que a mamãe desencarnou, parecia que meu mundo tinha parado, mas continuava a ver tudo em volta rodar. Era um transe. Eu só voltaria ao mundo normal quando começasse a girar junto com ele e isso só ia acontecer quando eu quisesse. Com tanta gente maravilhosa em volta, eu não fui "deixada" muito tempo parada ali. Voltei logo pro ritmo e empenhada a encher minha mãe de orgulho todos os dias. 

Tem uma música que sempre toca na minha cabeça quando eu lembro isso da vida:
http://youtu.be/je-RTYbzoEk

A vida não para. 
A vida é tão rara. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

só.zinha;

Desde que me entendo por gente repito que meu sonho é ser independente. Sempre foi, mesmo. Nunca sonhei em casar, entrar na igreja vestida de noiva ou ter uma casa grande com muitos filhos. Isso nunca foi uma prioridade pra mim. Só que eu não sabia que era tão pesado. Pra mim era "só" não depender de ninguém. Ter as minhas coisas conquistadas com o meu trabalho e poder fazer o que eu quiser, quando e como eu quiser.

Hoje eu consigo entender o tanto que minha mãe se preocupava em me ver com alguém ou com um filho. Ela dizia sempre que não queria me deixar sozinha, já que não me deu irmãos. Se apegava aos meus namorados como se fossem filhos. Eu dizia sempre que ela não precisava se preocupar com isso pq eu nunca estaria sozinha, que tenho muitos amigos e a família. Hoje eu sei o que ela queria dizer. Por mais amigos que você tenha, você está sozinho. Por maior que seja a sua família, você está sozinho. Você só não está só quando tem seus pais ao lado (ou quando já construiu sua nova família - que é aquele momento que a mãe adora dizer "quando você tiver seu filho, vai me entender!"). São eles que vivem por você incondicionalmente. São eles que te atendem a qualquer hora do dia ou da noite só pra ouvir que você tropeçou numa pedra.

Hoje eu queria que meus sonhos tivessem sido mais "normais". Tenho a minha independência, minha família, muitos amigos, mas não tenho pra quem contar que tropecei numa pedra, que to com o nariz entupido, que comprei "aquele sapato que eu queria, lembra?". Nunca me senti tão sozinha tendo tanta gente.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

natal;

Há um ano partíamos para a viagem mais esperada das nossas vidas. Pelo menos na minha e na dela. Comprei as passagens em agosto e consegui um bom preço para irmos os três. Era uma felicidade que não cabia em nós. Levar a mamãe de volta à cidade dela era um dos meus grandes sonhos. Sempre dizia para ela que um dia eu daria aquele presente. Custei a acreditar quando consegui. Na verdade, acho que só acreditei quando chegamos ao aeroporto para embarcar para Salvador. Vê-los chegando no terminal arrumadinhos para viajar já encheu meus olhos de lágrimas. Papai, que todo o tempo dizia que não ia viajar e que não gostava de andar de avião, até que estava animado. Mal sabia ele o tanto que voltaria apaixonado por aquela terra e toda a família da mamãe.

Descemos em Salvador e um primo que mora lá foi nos buscar. Partimos para Paulo Afonso só no dia seguinte. Mamãe não via Walter há anos que ela nem sabia quantos. Foi uma noite regada a algumas cervejas e muita conversa. Eu sempre fui muito ligada à família da minha mãe. Por maior que seja essa distância, meus tios e primos sempre foram muito próximos de nós por ligações, cartas e fotografias.  Além daquela ser a vontade dela, era um sonho meu se realizando. Os meus maiores sonhos sempre foram por eles e para eles.

No dia seguinte, Walter nos deixou na rodoviária e partimos para Paulo Afonso em uma viagem que cortava, praticamente, a Bahia inteira. O ônibus ia parando em todas as cidades. Não pregamos os olhos por nenhum minuto. Papai me mostrava a vegetação da estrada e me explicava cada plantação tipicamente nordestina, como uma imensa de caju em uma cidade que faço nem ideia do nome.

Chegamos em Paulo Afonso por volta das 18h. Meus tios nos esperavam na rodoviária. Foi aquele chororô que já sabíamos que ia ser. Mamãe só repetia para minha tia "para de chorar, Nana! não tem ninguém morrendo!". Ela nunca gostou de chorar. Seria capaz de contar nos dedos as vezes que a vi chorando. E todas elas eu chorava junto. Aliás, era uma ótima maneira de fazê-la parar. Bastava dizer "mãe, se você chorar eu choro também".

Papai em poucas horas se sentia em casa. Foi tão bem recebido que repetia sempre "imagina se eu não tivesse vindo?!". Pois é, imagina! No dia seguinte já partimos para a cidade de uma outra tia, a Vera. Pela primeira vez em 25 anos minha mãe voltava à terra dela. Dos cinco filhos que estão vivos, três estavam ali passando as festas juntos. As três filhas mulheres que minha vó teve. A gente não tinha como mensurar tamanha felicidade.

Foi um natal lindo. Trocamos presentes, as crianças estavam felizes como nunca e, pela primeira vez, eu tinha um Natal com a minha família. A minha, de verdade, de sangue, (quase) inteira. Sofríamos tanto em pensar que a distância não nos permitia viver aquilo sempre. Mas foi assim que a vida sempre quis que fosse, né?!

Mamãe viu quase todas as pessoas que fizeram parte da vida dela. Os tios que ainda estão vivos, os sobrinhos que ainda não conhecia, os filhos de alguns sobrinhos, os primos, os filhos dos primos, a melhor amiga e até o primeiro namorado (com toda a família). Foram dias muito felizes.

Passamos a nos perguntar se conseguiríamos viver ali, papai estava tão feliz que não queria ir embora. Pra completar tamanha felicidade, meu primo se casou logo após o Natal. Mamãe estava linda, radiante! Feliz e divertida como ela costumava ser e ali, entre a família dela. Entre pessoas que a viram crescer, que tinham participação na história dela. Chirley, a esposa do meu primo, afilhado da minha mãe, sempre repetia "como tia Lala é divertida!". Para eles, ela é Lala - com a primeira sílaba tônica.

Mamãe já sentia dores e chegamos a ir ao hospital em um dia. Como de "praxe", os médicos deram um remédio para cólicas e voltamos para casa. Minha tia Nana, que mais cuidou de minha vó durante a vida toda, estava preocupada. Dizia que as dores de dona Lourdes eram "mesmo assim". E deviam ser, de fato. As duas tiveram exatamente o mesmo diagnóstico.

Quando chegou dia 31 de dezembro, a animação do réveillon não era tanta. Nossa volta era no dia seguinte. A família de Tia Vera, que tinha vindo de Santana do Ipanema, já tinha ido embora e passamos a virada com a família de Amanda, então recém-esposa do meu primo. A comemoração foi na casa da minha tia. Acho incrível como a tradição da ceia muda de uma cidade pra outra. Lá eles não conheciam rabanada!!!!! Corremos a cidade inteira atrás de pão pra rabanada e quase não conseguimos.
Fizemos a alegria da ceia do réveillon! Todo mundo amou. Eu e mamãe éramos imbatíveis nas rabanadas.

Viramos o ano e logo no primeiro dia viemos embora. Almoçamos na beira do rio São Francisco e logo seguimos para o aeroporto. Papai já nem tinha mais medo de avião. Nos despedimos prometendo voltar.

Exatamente um mês depois que voltamos, mamãe foi internada. Esse certamente será um dos natais mais complicados da vida. A saudade é enorme e quando a gente acha que diminuiu, ela vem com tudo e derruba a gente de surpresa. Mas vamos seguir.

domingo, 20 de julho de 2014

aos amigos.

Que ingrata eu seria por deixar passar esse dia sem falar aos meus. Cheguei a comentar com uns “não tenho paciência pra essas coisas”. Talvez o domingo e todo peso da carência que tem, misturado ao meu amor e gratidão, trouxe essa vontade. Nunca fui muito dessas de ter poucos e bons, tenho muitos e maravilhosos. Sem modéstia. E sei disso, principalmente, por poder ter contado com todos no momento que mais precisei.

Os de escola continuam até hoje, misturados com os amigos do bairro, da rua ou do prédio. Não nos vemos mais com tanta frequência, mas quando encontramos é como se esse intervalo não existisse. (Cliché, eu sei, mas verdade). Voltam as piadas, as risadas, as lembranças da professora burra, do outro que foi expulso de sala e das colas.

Os atuais se misturam. Há sete anos uma comunidade no orkut me fez encontrar muitos que hoje são como minha família. É muito difícil responder quando as pessoas perguntam como nos conhecemos. Dizer apenas “pela internet” parece muito raso por tanta coisa vivida. Além deles, vieram os agregados e algumas famílias que sempre me recebem e acolhem tão bem.

Da faculdade são poucos, mas aqueles que sei que estarão comigo por muito tempo. Um torcendo pela realização do outro. É tão prazeroso dizer que aquele conseguiu aquela vaga que queria tanto! Tem os de “herança”, aqueles mineiros queridos que continuam me recebendo tão bem que ocupam um pedaço enorme no meu coração. Os de trabalho, aqueles que a gente convive intensamente por tanto tempo e depois perde o contato, mas que preenchem uma lacuna enorme nas tantas histórias que passaram. E, ainda, aqueles que de tão amigos já foram promovidos a primos, tios e sobrinhos (mais conhecidos como minha família escolhida – já que a minha de verdade vive tão longe).

Para cada um de vocês um obrigada gigaaaaante! Recebi tanto carinho, tanto afeto, tanto abraço, tanto cuidado, tanto amor em dias tão difíceis desse ano, que nunca serei capaz de retribuir ou agradecer o suficiente. Só tenho a certeza de ter muita sorte por ter cada um de vocês ao meu lado.


Feliz dia dozamigo (serve pra amanhã também)! Agora toca o Reginaldo Rossi pra embalar a breguitude!