quarta-feira, 7 de maio de 2014

quando decidimos doar.


Nunca tínhamos conversado sobre transplantes, mesmo com um caso exemplar que tivemos na família. Até que um dia, quando esperávamos para entrar no CTI para ver a mamãe, papai comentou “minha filha, se algo acontecer, acho que ela iria gostar se doássemos o coração dela. Imagina se uma criança receber, como ela seria feliz!”. Crianças sempre foram a paixão da mamãe.

Eu já havia pensado sobre doação desde que ela tinha entrado no CTI. Na porta do setor do hospital colocaram um cartaz enorme, justamente com uma criança pedindo a doação. Mas achava que seria complicado convencer o papai a fazer isso, até que ele me surpreendeu vindo com esse comentário.

Hoje um programa de TV falou sobre transplantes e ontem a novela também abordou o assunto. É de uma importância enorme as pessoas compreenderem que mesmo no meio de tanta dor, pode conseguir ajudar outra família. E foi nisso que pensamos quando falamos sobre o assunto. Respondi ao papai que sim, que se a mamãe pudesse, faríamos as doações. Infelizmente ela não podia. A equipe do Programa Estadual de Transplante (PET) concluiu que ela não era uma doadora em potencial depois da avaliação da morte cerebral. São vários fatores que levaram a isso, a própria doença de base, a sepse que se instaurou e também a quantidade de noradrenalina que ela passou a utilizar depois da parada cardíaca (informações que me passaram, não sei se totalmente corretas).


Uma das coisas mais lindas que minha mãe me ensinou foi a ajudar o outro, seja lá “o outro” quem for. A gente não podia colaborar com dinheiro, mas mamãe era aquela que guardava um pouco das quentinhas que fazia para dar aos mendigos que ficam na nossa rua. E isso valeu na hora de decidirmos sobre seus órgãos. Mamãe foi uma mulher tão feliz, tão boa, que a gente queria que isso tudo se perpetuasse de alguma forma. Imaginem que lindo seria mais uma pessoa com esse coração cheio de amor no mundo.